domingo, 10 de dezembro de 2017

FRONTEIRA DESPOLICIADA. FALTAM ESTRUTURA E EFETIVOS




Falta de efetivo é o principal problema nas fronteiras do RS


Por RBS TV
09/12/2017

Poucos funcionários e postos fechados colocam em risco as fronteiras gaúchas. Policiais confirmam falta de estrutura e de efetivo na fronteira com a Argentina. Resultado é a prevalência de crimes como tráfico de drogas e armas na região.


A falta de fiscalização põe em risco as fronteiras gaúchas. Com postos fechados e poucos funcionários, as estradas gaúchas da região evidenciam a facilidade de circular entre um país e outro.


Em Quaraí, cidade localizada na fronteira do Brasil com Artigas, no Uruguai, o fluxo de veículos e pessoas é praticamente livre. No posto de fiscalização, apenas dois plantonistas acumulam funções: além da emissão da entrada e saída de turistas, eles ainda têm tarefas de polícia administrativa, como emissão de certidões de antecedentes criminais e confecção de carteira de estrangeiros.


Um policial, que pede para não ser identificado, confirma a situação. "A gente tem uma defasagem tanto em quantidade de efetivo, que estaria lotada, nas delegacias de fronteira, quanto também ao que se refere à rotatividade do pessoal", disse à reportagem da RBS TV.


Em São Borja, a situação é semelhante. Na fronteira do município com Santo Tomé, cidade da Argentina, os policiais contam que trabalham desarmados e sem poder de polícia. A Delegacia da Polícia Federal, que poderia ser um reforço, fica a 10 quilômetros. E eles também reclamaram da falta de efetivo para combater o tráfico de drogas e armas que cruzam a fronteira.

"A Argentina acabou virando um corredor de passagem da maconha, da cocaína, das armas e das munições do Paraguai e da Bolívia", diz um policial do local, que também não será identificado.


Já em Uruguaiana, cerca de 1 mil carros cruzam a ponte internacional, muitos dos quais não passam pela fiscalização.


A situação é pior na Região Noroeste da fronteira, onde portos informais funcionam normalmente sem qualquer fiscalização. Isso porque, por falta de recursos, há quatro anos a polícia resolveu tirar os funcionários do posto de fiscalização entre o Porto Vera Cruz e Panambi na Argentina.


E na aduana em Porto Vera Cruz, o cenário encontrado foi de salas abandonadas e estrutura prejudicada.



O delegado regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Sérgio Busato, informa que o foco do trabalho na fronteira é na área de inteligência, tecnologia, conhecimento e capacitação. "A gente tem essas delegacias estratégicas de fronteira, que fazem trabalhos regionais e às vezes nacionais".


Ele afirmou que, na superintendência, há áreas especializadas, como combate ao tráfico de drogas, de armas, ao contrabando, que atua contra o crime organizado. "Essa tem sido a estratégia para atuação de polícia judiciária, de investigação em cima dos grupos criminosos que usam a rota do Rio Grande do Sul para traficar armas, bebidas, drogas e esse tipo de produto ilícito".




Posto está com as janelas quebradas e completamente abandonado (Foto: Reprodução/RBS TV)


Reforço da Brigada e do exército para fiscalização


Sem o trabalho da Polícia Federal, é a Brigada Militar que entra em ação. Na região de Santa Rosa, os policiais apreenderam R$ 4 milhões em produtos contrabandeados na Região Norte, em um ano. "Praticamente a cada mil metros existe um pequeno porto informal que dá acesso para embarcações e através dos quais os contrabandistas fazem a entrada e saída de marcadorias", explica o capitão da Brigada, Vinícius Karnikowski.


O exército também reforça o combate ao crime. Uma operação realizada recentemente com a ajuda de 300 militares realizou 6 mil abordagens, segundo o general de exército Edison Leal Pujol.



"A gente consegue aumentar o número de apreensões, de ter material ilícito, mas isso não é o nosso principal objetivo, as vezes até o fato de impedir, de que nesse período que nós estamos trabalhando, diminua a entrada de material ilícito no nosso território, já é um ganho".



Pujol destaca que a falta de estrutura e investimentos são os princxipais fatores para fragilidade nas fronteiras. "Se nós tivéssemos capacidade, nós e os nossos órgãos que estão envolvidos tivessem efetivo, equipamento, tivessem disponibilidade orçamentária de aumentar o número de vezes e o período de atuação certamente os resultados seriam maiores".

CONTROLE PRECÁRIO. ROTAS ALTERNATIVAS BURLAM FISCALIZAÇÃO




Rotas alternativas são usadas no contrabando de mercadorias na região de fronteira do RS

Por Patrícia Porciúncula, RBS TV
Rotas alternativas são usadas para contrabando na fronteira do RS com o Uruguai. Beira da praia e estrada na zona rural seriam os pontos usados para burlar a fiscalização. Polícia Federal e Receita Federal apontam falta de efetivo como motivo para o controle precário.


Para burlar a cota máxima de 300 dólares, muitas pessoas que vão ao Chuí, na fronteira do Brasil com o Uruguai, no extremo Sul do Rio Grande do Sul, usam rotas alternativas para transportar mercadorias entre os países. O motivo é que quem chega do país vizinho precisa declarar os produtos na Receita Federal.


Até o sábado (9), uma série de reportagens vai mostrar a fragilidade da segurança nas linhas de fronteiras do Rio Grande do Sul. Na quinta-feira (7), foi relatada a entrada ilegal de mercadorias por Aceguá. Na última matéria, será apresentado como está o controle na divisa com a Argentina.


Contudo, nem mesmo nos feriados, quando o movimento de turistas em busca de compras nos free shops aumenta, a fiscalização é realizada. "Essa semana nós passamos três vezes ali e nenhuma das três vezes fomos abordados, nenhuma fiscalização na Receita", conta a doceira Bárbara Moura.


A reportagem da RBS TV passou pela aduana brasileira diversas vezes, em diferentes dias e horário, e em nenhum momento foi abordada. A Receita Federal admite que não tem conseguido fazer esse trabalho diariamente e um dos motivos é a falta de servidores. Segundo o auditor fiscal Cassius Garcia, 25 pessoas trabalham neste posto, mas o necessário seria o dobro.

"A abordagem existe, ela vem ocorrendo de forma aleatória por amostragem ou com uso de ferramentas de inteligência. O nosso efetivo nessa unidade foi reduzido em aproximadamente 60% nos últimos sete anos, os últimos concursos realizados já estão vencidos e não temos previsão de novos concursos", lamenta.


Quase 166 mil pessoas já passaram pelo posto de migração em 2017. Os meses de janeiro e abril foram os de maior movimento. Segundo a Polícia Federal, os crimes mais registrados na fronteira são tráfico de drogas e armas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, além do contrabando de mercadoria.



Uma das rotas usadas para desviar da fiscalização é a beira da praia da Barra do Chuí (Foto: Reprodução/RBS TV)


No entanto, as autoridades relatam que se controlar os veículos que passam na aduana já é difícil, a situação fica ainda mais complicada nos caminhos alternativos usados pelos contrabandistas. Um deles é pela beira da praia da Barra do Chuí, a 11 quilômetros da aduana principal. Outra rota utilizada é uma estrada que fica na zona rural do Chuy, no lado uruguaio.


Uma moradora que preferiu não se identificar relata que durante a noite é quando acontece o maior movimento. "De dia eu olho e são os vizinhos. De noite tem muito movimento de carro e de caminhão", diz.


A Receita Federal admite que os caminhos alternativos são rota de crimes. "A região tem diversos outros acessos, mas as nossas equipes estão sempre atentas. Se passar fora da rota principal, a mercadoria vai ser perdida não vai haver a possibilidade de efetuar o pagamento dos tributos e levar a mercadoria adiante como ocorreria se parassem na nossa unidade", alerta Garcia.


A Polícia Rodoviária Federal (PRF), que também poderia fazer a fiscalização, enfrenta dificuldade com o efetivo. "O nosso déficit de efetivo gira em torno de 50% nos últimos anos. No momento realmente estamos desempenhando as nossas atividades dentro das possibilidades", explica o chefe da PRF na região, Fabiano Goia.



Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Rio Grande do Sul (Sinpef), Ubiratan Sanderson, o que falta é uma política de segurança pública voltada para as áreas. "A fronteira seca entre Uruguai e Brasil, considerando que o Uruguai também não tem uma politica rígida de segurança pública, somada ao abandono das entidades policiais brasileiras, vira, na verdade, uma terra de ninguém", afirma.


O delegado regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Sergio Busatto, diz que o foco é a área de inteligência e a investigação de grupos criminosos que traficam armas, bebidas e drogas.



Efetivo da Receita Federal na região foi reduzido em 60% nos últimos sete anos (Foto: Reprodução/RBS TV)