sábado, 9 de julho de 2016

QUADRILHA FACILITAVA O CONTRABANDO



ZERO HORA 09 de julho de 2016 | N° 18577




Por decisão do ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a sentença condenatória de 2009 contra (...) Ishii, o Japonês da Federal, foi mantida, em despacho de março de 2016.

Em 2003, a Operação Sucuri investigou uma quadrilha formada por agentes da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal que facilitavam o contrabando de produtos ilegais na fronteira do Paraguai com Foz do Iguaçu, no Paraná. Ishii estaria envolvido com a trama. Ele e outros dois agentes, diz o processo, teriam se omitido de fiscalizar veículos cujas placas eram informadas previamente por intermediários.

Ishii já sofreu outro revés: em 14 de novembro de 2013, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que ele e outros nove servidores da PF retornassem à ativa. Eles haviam se aposentado com a contabilização indevida de tempo de serviço.

Por ironia do destino, Ishii regressou ao trabalho em março de 2014, poucos dias antes da eclosão da primeira fase da Operação Lava-Jato.

QUATRO ANOS E DOIS MESES DE RECLUSÃO

Pouco antes de o STJ manter a sentença de Ishii, ele já havia sido removido da tarefa de conduzir presos. A tornozeleira não permite que use os coturnos pretos da PF. Em tarefas administrativas, trabalha na superintendência das 8h às 18h, com obrigatoriedade de dormir em casa. Aos finais de semana, precisa ficar recolhido.

Embora esteja mais longe das câmeras, não está se escondendo. Recentemente, prestigiou, em Curitiba, lançamento de livro sobre a LavaJato, de autoria do jornalista Vladimir Netto, onde encontrou Moro e investigadores. O Japonês da Federal foi um dos mais assediados.

Advogado de Newton Ishii, Oswaldo Loureiro Junior informa que a sanção do seu cliente é de quatro anos e dois meses de reclusão em regime semiaberto. Com o expediente da progressão após o cumprimento de um sexto da penalidade, Loureiro acredita que Ishii estará no regime aberto em mais quatro meses e confirma que o cliente está próximo da aposentadoria.



Fim de carreira nada glorioso para o Japonês da Federal

CARLOS ROLLSING


FIGURA FAMOSA DA LAVA-JATO, o agente agora usa tornozeleira eletrônica e está prestes a se aposentar

Segundo rosto mais popular da Operação Lava-Jato, o agente Ishii, ou simplesmente o Japonês da Federal, conheceu a fama ao conduzir, diante de câmeras, poderosos e bilionários presos. Agora, encaminha-se para um final de carreira menos glorioso.

Depois de funcionar como uma das engrenagens de marketing da investigação mais rumorosa do país, Ishii teve condenação por corrupção e descaminho confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele usa tornozeleira eletrônica, foi restringido a serviços burocráticos e já não é mais visto ao lado de alvos da Lava-Jato, com seus cabelos grisalhos e óculos escuros de lentes grandes e design moderno. Colegas de Polícia Federal (PF) dizem que um dos símbolos da investida contra o crime que mudou o Brasil está a caminho da aposentadoria.

A cada nova fase, surgiam mais personagens da corrupção na Petrobras. Invariavelmente, um agente de traços asiá­ticos fazia a condução dos detidos para exames no Instituto Médico Legal (IML) ou audiências na 13ª vara da Justiça Federal de Curitiba (PR), base do juiz Sergio Moro, o número 1 da Lava- Jato. De tanto ser visto na condição de representante da lei, com a custódia de corruptos e corruptores, Ishii passou a ser associado a princípios como ética, combate ao crime, fim da impunidade e justiça. Caiu no gosto popular e tornou- se garoto-propaganda da investigação.

ISHII SOUBE SE PROJETAR, DIZ CONSULTOR EM MARKETING

Descrito como um sujeito simpático, Ishii virou fenômeno nacional, inspirou máscaras de Carnaval, bonecos de Olinda e passou a ser alvo de milhares de buscas na internet. No Google, basta escrever “Japonês” para, de imediato, vir a sugestão de complemento: “da Federal”.

“Ai, meu Deus, me dei mal, bateu à minha porta o Japonês da Federal”, diz o refrão da marchinha composta em homenagem ao agente. Um filmete de menos de quatro minutos publicado no YouTube também faz referência em tons ficcionais. Nas imagens, o Japonês troca tiros e vence bandidos, explode o Congresso e protagoniza violentas cenas de ação, em uma mescla de Jackie Chan, Rambo e Matrix.

Em 2004, no artigo Considerações sobre a Operação Mani Pulite, referência à investigação que desmantelou esquemas de corrupção na Itália, Sergio Moro já destacava a comunicação – e o marketing, de quebra – como um dos pilares para o sucesso de uma grande operação.

Para o doutor em Direito e advogado criminalista Lúcio de Constantino, defensor de suspeitos na Lava-Jato, o Japonês funcionou como uma linguagem simplificada que despertou simpatia.

– A figura do Japonês ingressa como um símbolo nas camadas mais populares e isso, de certa forma, foi um elemento pedagógico. Ele traz um conceito superficial para aquelas pessoas que não conseguem ter uma ideia mais complexa desse universo criado em torno da Lava-Jato – opina Constantino.

Juliano Corbelini, consultor em marketing político, avalia que Ishii não está entre as chaves do sucesso de crítica da Lava-Jato. Ele entende que o agente virou um dos rostos da operação porque soube se projetar:

– A exposição das prisões é parte da estratégia da Lava-Jato. Isso é perceptível. Aí, gerou essa janela de aparecer sempre a mesma figura fácil de ser reconhecida. Ele aproveitou a janela.

Se Moro é a imagem maior da Justiça na Lava-Jato, Ishii ganhou fama por supostamente ser o executor das prisões de políticos, empreiteiros e operadores financeiros. Tanto que a marchinha de Carnaval e o filmete citam de forma atemorizadora que o Japonês da Federal “baterá à porta” de corruptos. Delegados e procuradores da República, os verdadeiros investigadores, ficaram em segundo plano no imaginário popular. Isso, garantem, não chegou a causar ciumeira, mas houve reações desgostosas.

O Japonês jamais cumpriu mandado de prisão da Lava-Jato. Nunca bateu à porta dos suspeitos. Lotado no setor operacional da superintendência da PF em Curitiba, seu papel era conduzir os presos à Justiça e ao IML, ocasião em que fotógrafos e cinegrafistas conseguiam se aproximar para fazer as melhores imagens.

– Não nos surpreendeu (a condenação no STJ). Ele foi condenado pela investigação que nós mesmos fizemos em 2003. Mas deve ter surpreendido o povo que vê nele a imagem de alguém da Lava-Jato, quando, na verdade, nunca participou de qualquer ato da investigação – diz um delegado que atua no caso.

domingo, 10 de janeiro de 2016

PAÍS É ENTREGUE AO CRIME



CORREIO DO POVO 09/01/2016 20:52


Cíntia Marchi



"Sem presença do Estado, país é entregue ao crime", avisa Sindireceita. Equipe registrou abandono das aduanas em Porto Soberbo, Porto Vera Cruz e Porto Lucena



Três de cinco pontos aduaneiros no Noroeste gaúcho, divisa com a Argentina, encontram-se fechados. A denúncia é feita pelo Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal (Sindireceita) que, em novembro passado, percorreu toda a região para identificar as deficiências dos postos localizados na fronteira. A avaliação é negativa, na opinião do diretor de Assuntos Aduaneiros do Sindireceita, o analista-tributário Moisés Boaventura Hoyos. “Enquanto não dermos valor à proteção das fronteiras, vamos ficar nos perguntando de onde vêm as armas, os produtos piratas, as drogas”, diz.

Em 2014, no RS, foram apreendidas 7,9 mil armas de fogo e 8,5 toneladas de drogas, segundo dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública. “Sem a presença do Estado nas fronteiras, entregamos nosso país ao crime organizado”, considera Hoyos. A equipe do Sindireceita percorreu mais de 1,7 mil quilômetros de rodovias federais e estaduais e estradas de terra e navegou trechos do rio Uruguai, em cinco dias de visitas técnicas. Registrou abandono pela Receita Federal das aduanas em Porto Soberbo, Porto Vera Cruz e Porto Lucena. “Notamos que as estradas e a mobilidade próximo a estes postos melhoraram muito, mas, em contrapartida, a Receita saiu de lá. Enquanto se melhorou o acesso, o controle deixou de existir.”

Em Porto Mauá e Porto Xavier, o Sindireceita encontrou as estruturas em funcionamento e registrou incremento de equipamentos em relação à última vistoria em 2010. Nos dois postos aduaneiros abertos trabalham dez analistas-tributários (três em Porto Mauá e sete em Porto Xavier) e cinco auditores-fiscais (um em Porto Mauá e quatro em Porto Xavier). Os servidores atuam em horário comercial e em esquema diferenciado nos finais de semana e feriados.

Onde não há mais a presença da Receita, Hoyos conta que foram flagrados vários locais de atracação de barcos ao longo do rio Uruguai, o que indica que a passagem de mercadorias e pessoas de um ponto a outro ocorre livremente, sem obstáculos de fiscalização. Segundo relatório do Sindireceita, nestes locais existem apenas balsas que recolhem taxas pelo uso do transporte. “Ficamos pouco mais de uma hora em Porto Soberbo, onde tem a balsa. Por ali, entraram e saíram do Brasil cerca de 60 carros. Mesmo que o fluxo seja pequeno, tem que haver um controle”, defende o analista.


Receita: pontos não fazem o controle

O superintendente da Receita Federal do Brasil no RS, Paulo Renato Silva da Paz, diz que os três pontos aduaneiros – Porto Soberbo, Porto Vera Cruz e Porto Lucena – nunca foram recintos alfandegados da Receita Federal. Ele explica que servidores cumpriam horários nestes locais, mas que o sistema acabava não tendo efetividade. “Estes pontos nunca permitiram fazer o controle de contrabando e descaminhos, até porque o contrabandista nunca vai passar por uma balsa sabendo que vai enfrentar fiscalização na chegada ao ponto aduaneiro.”

Segundo Paz, a repressão da entrada de bens ilícitos deve ser feita por meio de investigação, já que nos postos alfandegados o trabalho dos servidores é dedicado mais à exportação, importação, entrada e saída de pessoas. O superintendente acrescenta que o tamanho da fronteira seca do Brasil – quase 17 mil quilômetros – e o número insuficiente de servidores dificultam a investigação e fiscalização. “É muito difícil impedir que haja ingresso de mercadorias ilícitas, porque existe uma série de atracadouros clandestinos que fogem ao nosso controle.”

De janeiro a novembro de 2015, foram apreendidos no Estado 10 milhões de maços de cigarros contrabandeados, um dos itens mais apreendidos pela Receita. O valor, que já alcança R$ 44 milhões, supera os R$ 42 milhões registrados em 2014. Conforme Paz, 351 servidores da Receita Federal trabalham nas seguintes unidades: Bagé (24), Barra do Quaraí (3), Chuí (42), Itaqui (7), Jaguarão (28), Porto Mauá (5), Porto Xavier (10), Quaraí (10), Santana do Livramento (59), São Borja (32), Três Passos (7) e Uruguaiana (124).