quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ALIANÇA DO CRIME



ZERO HORA 25 de setembro de 2013 | N° 17564


CARLOS WAGNER

‘Consórcio’ desafia a polícia

Com o volume crescente de apreensões, bandidos voltam a importar drogas conjuntamente para reduzir perdas e diluir custos



Acossados pela ação da Polícia Federal (PF) nas fronteiras do Brasil e pelas constantes operações da Polícia Civil, os traficantes no Rio Grande do Sul reativaram os consórcios para comprar drogas no Paraguai. Com a divisão dos riscos, eles reduzem os prejuízos quando ocorrem as apreensões. E, ao dividirem os custos de transporte, ampliam os lucros quando colocam a droga no mercado.

Aideia do consórcio é antiga entre os traficantes gaúchos. A formação, segundo o delegado Heliomar Athaydes Franco, diretor de investigação do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc), é favorecida pela estrutura do tráfico no Estado, formada por pequenos grupos – diferentemente do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde organizações criminosas como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital dominam grande parte do comércio das drogas:

– Aumentamos a eficiência nas investigações, que resultaram em operações mais bem-sucedidas.

Mesmo com os principais traficantes gaúchos presos, como Juraci Oliveira da Silva, o Jura, capturado no Paraguai em 2010, e Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão, detido no Rio de Janeiro, o comércio montado por eles segue funcionando. Na opinião do delegado, esse comércio continua ativo porque o Rio Grande do Sul perfila-se entre os grandes mercados consumidores do país.

Voo entre Porto Alegre e Lisboa atrai “mulas”

Além dos usuários, outro fator fortaleceu o tráfico no Rio Grande do Sul: a implantação do voo entre Porto Alegre e Lisboa, em 2011, que atraiu várias “mulas” – pessoas pagas para transportar drogas. Prova disso foi a apreensão de uma prancha de windsurfe contendo 15 quilos de cocaína no aeroporto Salgado Filho, em 10 de agosto. A prancha – e o homem de 26 anos, detido no aeroporto da Capital – iria para Barcelona, na Espanha, passando por Portugal.

Além das mulas, traficantes uruguaios também estão usando o Estado para a passagem de maconha e cocaína trazidas do Paraguai. A droga comprada nas cidades paraguaias entra na Argentina pela província de Misiones, separada do Rio Grande do Sul pelo Rio Uruguai. Na sequência, barqueiros atravessam a droga para o Estado, de onde ela segue, por via rodoviária, até Montevidéu.


PACOTES COLORIDOS IDENTIFICAM TRAFICANTES

Nos consórcios, os traficantes reúnem-se para comprar drogas. Além de reduzir custos de transporte, a estratégia minimiza prejuízos com eventuais apreensões feitas pela polícia.

Para diferenciar os destinatários, os pacotes são feitos em cores diferentes (foto), como registrado em Vacaria, na segunda-feira, na apreensão de 556,8 quilos de maconha feita pela Brigada, na BR-116.

O delegado Heliomar Franco, do Denarc, diz que há grupos que usam fitas ou símbolos como identificação. Em alguns casos, as cores podem indicar diferentes fornecedores da droga.


Capturas apenas “enxugam gelo”, afirma delegado

A formação do consórcio e as mudanças nas rotas do tráfico pelos traficantes vêm ocorrendo devido à ação nas fronteiras da PF, que recebeu imenso reforço para as operações contra o tráfico de drogas, no chamado Plano Estratégico de Fronteiras. O fortalecimento das ações ocorreu em 2010, depois que o senador paraguaio Robert Acevedo sobreviveu a um atentado em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia separada por apenas uma avenida de Ponta Porã, munícipio do oeste do Mato Grosso do Sul.

Na ocasião, o PCC, que controla a produção de maconha no Paraguai, foi apontado como responsável pela contratação dos pistoleiros. Em consequência, os dois presidentes da época, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, chegaram a encontrar-se, na rua que divide Juan Caballero e Ponta Porã.

Um dos braços do Plano Estratégico é a Operação Sentinela, força-tarefa que opera na região. O resultado das investigações feitas na Sentinela tem orientado as ações de apreensões de drogas da PF, conforme o superintendente da instituição, delegado Sandro Caron.

– O aumento das nossas ações nas fronteiras forçou os traficantes a adotar novas táticas. Mas, embora as operações tenham se intensificado, elas não são páreo para a demanda da droga, que incentiva a audácia dos traficantes. O que faz com que a polícia fique enxugando gelo – diz

As apreensões feitas por Brigada e Polícia Civil

Fonte: Denarc

2012
Maconha 2.300 quilos
Cocaína 312 quilos
Crack 308 quilos

2013 (até agosto)
Maconha 1.900 quilos
Cocaína 202 quilos
Crack 223 quilos

PF

A PF também registra vitórias no combate ao tráfico. Nos últimos cinco anos, apreendeu, em média, 350 quilos de cocaína por ano. Em 2013, até o momento, já foram apreendidos 774 quilos





Nenhum comentário:

Postar um comentário