sábado, 31 de março de 2012

OFENSIVA ESTADUAL NA FRONTEIRA COM A ARGENTINA


Invasão policial cerca o tráfico. Em uma das maiores operações feitas pela Polícia Civil, mais de 600 agentes e delegados de todas as regiões do Estado desarticulam bandos que injetavam drogas do Paraguai no Brasil via Argentina - FRANCISCO AMORIM, LETÍCIA COSTA E LUIZ ROES, ZERO HORA 31/03/2012

Ao reunir ontem mais de 600 policiais para desarticular 13 bandos responsáveis pelo varejo da droga em São Borja, na Fronteira Oeste, a Polícia Civil reforça sua presença na região e dá início a uma série de ações que devem se repetir em outras partes do Estado.

– Na quarta-feira haverá outra ação, com aproximadamente um terço do efetivo usado ontem. As incursões buscam combater o crime organizado – disse o chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Júnior, .

Na operação realizada na fronteira, além de identificar 95 criminosos, a investigação que se estendeu por dois anos revelou como criminosos ingressam com droga vinda do Paraguai pela Argentina.

Feita em três comboios com 155 viaturas, a invasão policial chamada de Operação Navalha neutralizou em três horas grupos responsáveis pela venda de cocaína, crack e maconha no município de 61,6 mil habitantes. A prisão de suspeitos e a apreensão de bens e drogas são resultado de um trabalho que envolveu agentes infiltrados, câmeras ocultas e escutas telefônicas. A investigação desvendou uma rede criminosa que se apropriou das mesmas rotas usadas pelos chibeiros – contrabandistas especialistas em cruzar o Rio Uruguai que separa o Brasil e a Argentina – para a entrada ilegal de mercadorias.

– Entre São Borja e Garruchos, por exemplo, a mata fechada facilita a ação de criminosos – explica o delegado Gerri Adriani Mendes, da 1ª Delegacia da Polícia Civil de São Borja.

Em grupos, policiais se espalharam pela cidade

A investigação que desencadeou a megaoperação de ontem começou há dois anos, depois de uma outra operação, chamada de Samurai, que, no final de 2009, resultou na prisão de 37 suspeitos de tráfico. Para desarticular as quadrilhas que tinham integrantes em comum, em uma espécie de consórcio do crime, a pequena delegacia distrital com 20 agentes usou técnicas, geralmente, reservadas aos departamentos especializados da corporação. Em vez de prender suspeitos assim que eram flagrados com drogas, a investigação apostou na identificação da rede criminosa a partir do tráfico de rua.

– Assim, conseguimos chegar aos líderes dos grupos – disse o delegado.

A Operação Navalha, que envolveu policiais de todas as regiões do Estado, foi minuciosamente planejada. Para não alertar os suspeitos, havia três pontos de encontro, de onde os policiais saíram na quinta-feira à noite, rumo a São Borja. Eles ficavam em Santiago, Itaqui e São Luiz Gonzaga. O local de encontro em São Borja também era discreto: uma fábrica de arroz às margens da estrada Santa Maria-São Borja (BR-287), longe do Centro.

Depois de uma madrugada marcada por várias reuniões de orientações, os agentes e os delegados deixaram a fábrica às 6h, para cumprir os mandados. Os policiais foram divididos em 10 grupos, que se espalharam por diferentes pontos de São Borja, a maioria na zona urbana. Um dos locais foi o Beco da Bugra, no bairro Paraboi, onde foram presas, pelo menos, 10 pessoas. Os presos foram levados para a Central de Polícia Judiciária, no Centro, e, depois, encaminhados ao Presídio Estadual de São Borja.

A ação, uma das maiores da história da corporação, parece ter ainda caráter pedagógico. A saturação das ruas da cidade fronteiriça com centenas de viaturas soou como aviso para criminosos. Ranolfo Vieira Júnior rechaçou a ideia de que a ação policial seria uma respostas aos críticos que afirmam que as forças policiais estavam de costas para a fronteira:

– Isso vai ser a prática, a população verá ao longo do ano várias operações parecidas.

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