quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

FRONTEIRA À MERCÊ DO TRÁFICO

Falta de tudo para a proteção contra a entrada de drogas e contrabandos no país, de efetivo a equipamentos básicos, como coletes e armamentos. Renata Mariz. Correio Braziliense - 20/02/2012

"Quando há grandes operações, quem se atrasa fica sem colete", diz o chefe de uma estratégica delegacia localizada na fronteira do Brasil. O que pode parecer choradeira sem fundamento de um delegado que prefere o anonimato é apenas parte dos problemas que a Polícia Federal enfrenta para vigiar os 16.886 quilômetros por onde entram drogas, armas e produtos contrabandeados no país. A carência exata do equipamento à prova de balas é de 383 unidades. Faltam também 48 binóculos de visão noturna, ou seja, mais que o triplo dos 15 disponíveis hoje às equipes de fronteira. O número de rastreadores precisaria quase quadruplicar, chegando a 120, para atender as necessidades dos policiais.


O problema da locomoção, entretanto, é um dos mais graves. O deficit de camionetes 4x4 chega a 60 veículos, quase a mesma quantidade dos 77 usados atualmente. Quatro em cada dez policiais federais lotados na fronteira reclamam da falta de pelo menos uma embarcação para fazer o monitoramento nos rios. Para 20% dos delegados, seria necessário uma lancha blindada que garantisse a segurança durante as operações. Um modelo semelhante, de propriedade da Receita Federal, está parado em Tabatinga (AM), município onde o trabalho se dá basicamente na água, por um problema no motor. Um acordo foi iniciado entre a PF, que se encarregaria de consertar a embarcação para usá-la, e o órgão, mas até agora nada de concreto ficou acertado.


Traçada em detalhes quantitativos e qualitativos por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), a situação da PF nas fronteiras revela não só a falta de condições de trabalho mas também a pouca efetividade do Plano Estratégico de Fronteiras, lançado em junho pelo governo federal com anúncio de investimento de R$ 37 milhões. "A situação de insuficiência de alguns equipamentos importantes acarreta dificuldades para realização do trabalho de repressão", assinala o TCU, em relatório.


Agente da PF há quatro anos em Foz do Iguaçu (PR), Bibiana Orsi enumera os problemas. "Os coletes atendem só a metade do efetivo aqui. E muitos deles estão vencidos. Quando chove, nosso posto na Ponte da Amizade fica inundado. Os veículos são velhos, falta combustível. Não sei para onde vão os investimentos que o governo anuncia. Em Foz do Iguaçu, o dinheiro não chega", diz Bibiana. O diretor de Relações do Trabalho da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Francisco Sabino, faz a mesma crítica. "Quem disser para a população que existe policiamento efetivo na fronteira está mentindo", afirma o policial.

Efetivo indefinido

Sabino explica que a alta rotatividade nas delegacias de fronteira, segundo informa o TCU, prejudica as ações. Há locais, como Paracaima (RR) e Cruzeiro do Sul (AC), onde os policiais ficam um ano, em média. "Quando começam a aprender o serviço, saem. Não tem policial antigo na fronteira", diz o integrante da Fenapef. Para piorar, ficou constatado que faltam cursos para os profissionais da faixa fronteiriça. Em 2010, segundo o TCU, de todas as capacitações sobre combate ao tráfico de drogas, apenas 12% das vagas foram preenchidas pelo efetivo na fronteira. "Servidores administrativos acabam se qualificando como policiais e nós não podemos fazer os cursos exatamente porque o efetivo é pequeno, a área não pode ficar descoberta, entre outros motivos", critica Bibiana.


Em Foz do Iguaçu, o maior posto da PF na região de fronteira, está a única embarcação blindada de que a corporação dispõe. "O medo é grande. Estamos pleiteando, inclusive, fuzis 762, porque enfrentamos esse tipo de armamento nas operações", afirma Bibiana. A Polícia Federal, por meio da assessoria de imprensa, informou que "já foram compradas embarcações blindadas para atuar na Região Norte e também no Lago de Itaipu", sem precisar quantas ou quando elas começarão a ser efetivamente usadas.


O órgão reconheceu a falta de coletes informando que "cada policial federal em operação será equipado ainda este ano com colete à prova de balas novo, num total de cerca de 10 mil unidades", mas não mencionou qualquer ação para suprir o deficit de binóculos de visão noturna, rastreadores e camionetes. Em relação aos 3.036 postos criados pela PF mas que não foram preenchidos, por falta de orçamento ou qualquer outro motivo, a assessoria de imprensa limitou-se a informar que "já providenciou o preenchimento de 1.200 vagas de policiais e pleiteia ao governo a abertura de concursos periódicos anuais para suprir toda e qualquer deficiência de efetivo".


NOTA: Matéria indicada por Jose Andersen

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